O desafio do ditado popular de ‘unir o útil ao agradável’ despertou no engenheiro civil e professor da PUC-Campinas, Adilson Ruiz, uma inquietação
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O professor Adilson Ruiz: quando acrescidas ao concreto, as raspas do asfalto servem para construir as barragens de proteção das rodovias
O desafio do ditado popular de “unir o útil ao agradável” despertou no engenheiro civil e professor da PUC-Campinas, Adilson Ruiz, uma inquietação: qual a melhor destinação para as raspas do asfalto retiradas durante a fresagem das rodovias? Explica-se: como quase 30 anos dedicados ao setor e ciente dos custos do material — e do volume, uma vez que as pavimentações precisam ser renovadas, no máximo, a cada dez anos — ele resolveu estudar maneiras de reutilizar o produto.O entendimento é o de que, além de reduzir custos, é possível diminuir desperdícios e colaborar positivamente para os impactos ambientais. Ele, então, desenvolveu um projeto no qual o material, quando misturado com concreto, é utilizado para construção de canaletas, muretas de proteção e outras benfeitorias junto às próprias rodovias. “Imagina se você tem em casa algo que pode ser reutilizado, e pode economizar?”, argumenta Ruiz.O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina, por meio da resolução 448/2012, a correta destinação do fresado asfáltico, com a obrigatoriedade de ser encaminhado para depósitos autorizados e com projetos de reutilização.Além disso, o Tribunal de Contas da União, em seu relatório técnico, menciona a necessidade das concessionárias indicarem nos projetos uma destinação ambientalmente adequada. “Justamente por isso parte desse resíduo já é utilizada por prefeituras, para tapar buracos urbanos, ou mesmo em estradas rurais. Mas nem sempre utiliza-se a técnica correta para aproveitar melhor o material”, diz.Sua pesquisa sobre o tema transformou-se em tese de sua dissertação de Mestrado no PosInfra (Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Infraestrutura Urbana), orientado pela Profa. Dra. Ana Elizabete Jacintho, e defendida em 2017. Recentemente, o estudo — já em processo de registro de direitos — tornou-se a primeira patente depositada pela PUC-Campinas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).A Universidade decidiu que, através do NIT (Núcleo de Inovação Tecnológica), as criações dentro dos campi serão analisadas e, sendo estratégicas, tramitarão para a proteção da propriedade intelectual. Além disso, farão parte do portfólio da Vitrine Tecnológica da PUC-Campinas, que está sendo criada para divulgar as pesquisas desenvolvidas pela Universidade.Além da intermediação em propriedade intelectual, o NIT tem por objetivo auxiliar na transferência de tecnologia das patentes da Universidade com o mercado. No caso dessa patente do professor Ruiz, já há o interesse de pelo menos uma concessionária de rodovias em conhecer a técnica e avaliar sua viabilidade.
Desperdício
De acordo com Ruiz, o Brasil desperdiça milhões de reais com resíduos de asfalto retirados para o recapeamento de rodovias em todo o País e seu método de reutilização pode gerar uma economia de US$ 97 milhões por ano somente com a venda do CO² (através do programa renda verde, em que países ou empresas poluidoras compram créditos relacionados a programas de redução de poluição). A tecnologia, além dos ganhos econômicos para concessionárias e poder público, ainda tem potencial de reduzir a emissão de CO2 em cerca de 270 mil toneladas. Já a redução de custos na compra de matéria prima como areia e pedra seria equivalente à quantidade necessária para a construção de 7 mil casas populares de 40 metros quadrados. Todos os cálculos foram feitos com base em dados oficiais sobre a malha viária nacional.
Material tem outras vantagens além do impacto financeiro. A utilização das raspas do asfalto tem outras vantagens, além do impacto financeiro e ambiental. Dessa vez, o foco está no novo produto. Isso porque, quando acrescida ao concreto, utilizado para, por exemplo, construir as barragens de proteção das rodovias, a mistura sugerida na pesquisa do professor Adilson Ruiz aumenta a resistência do material, melhora o módulo de elasticidade e garante maior capacidade de absorção de água.“Estudamos os benefícios e realmente acredito no potencial”. Ele explica ainda que incorporação do fresado asfáltico (raspas de asfalto) na composição altera as características de permeabilidade da água no concreto, tanto na absorção, quanto na ascensão capilar, dificultando a passagem da água por essa mistura.”Como alguns desses elementos podem ser armados (com ferro, por exemplo), dificultar a passagem da água pelo seu corpo faz com que o aço não seja afetado pelo processo de corrosão gerado pela presença da água. Como os elementos de estudo ficam expostos às intempéries, pois dão executados basicamente em rodovias, essa propriedade torna-se muito importante para garantir sua vida útil”, explica.
Universidade incentiva iniciativas
O debate sobre a sustentabilidade é imediato e irreversível. Um olhar rápido nos noticiários nos leva a refletir sobre alterações climáticas e impactos ambientes para as próximas gerações, em um cenário mundial onde, em que pese a urgência na redução de CO2, por exemplo, sabemos que a meta de zerar ainda está distante.Claro que, nesse cenário, a participação das Universidades é essencial para apontar soluções ou mesmo mobilizar a comunidade em prol do tema. Ciente de sua responsabilidade social, a PUC Campinas vem implantando, especialmente desde 2016, projetos que tratem de sustentabilidade e tecnologia. São ações planejadas para diminuir o consumo de energia e água, além de produzir energia em uma pequena usina fotovoltaica, tratar e reciclar resíduos sólidos e colocar para funcionar uma estação de tratamento de águas cinzas, que foi construída há muitos anos, mas nunca funcionou.Recentemente, a PUC firmou parceria com a CPFL Paulista dentro do Programa de Eficiência Energética da distribuidora. A Universidade receberá R$ 1,407 milhão a fundo perdido para a troca de 20 mil lâmpadas fluorescentes por LED e instalação de uma usina fotovoltaica.Segundo o Prof. Dr. Marcos Carneiro da Silva, diretor da Faculdade de Engenharia Mecânica e assessor da Pró-Reitoria de Administração, a sua implantação deverá gerar uma economia de cerca de R$ 30 mil por mês à Universidade. Além da economia, o projeto possibilita ganhos ambientais.A PUC-Campinas já implantou outros projetos no âmbito dos Programas de Eficiência Energética — PEE com a CPFL. Um deles foi a troca de lâmpadas de salas de aula e de prédios acadêmicos por LED e a troca e melhoria da iluminação externa dos dois campi. “‘Estas duas ações promovem economias mensais significativas no consumo de energia e nos custos de manutenção da Universidade. Agora vamos trocar lâmpadas de prédios administrativos, do Hospital PUC Campinas e instalar uma usina fotovoltaica no alto do prédio de Direito. Com isso, a eficientização do uso final Iluminação estará finalizada nos Campus I e II da PUC-Campinas”, explica o professor.