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Certificação de indicação geográfica beneficia cadeia produtiva dos agricultores.

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Antônio Ximenes, do Jornal A Crítica – A Farinha do Uarini do Médio Solimões recebeu a certificação de indicação geográfica  do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) nesta terça-feira (27), em cerimônia no auditório da Faculdade de Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no bairro da Cachoeirinha. Os municípios beneficiados com o registro inédito são: Tefé, Uarini, Alvarães e Maraã.

“Essa indicação geográfica prova que a farinha do Uarini faz parte de uma tradição, cultura e prática contínua na região. É o reconhecimento de vínculo com este produto no território e com aceitação histórica de geração em geração”, afirmou a chefe do escritório regional do INPI para as regiões Centro-Oeste e Norte, Milene Dantas Cavalcante.

Com este novo status tudo muda para os produtores rurais, que com o reconhecimento da certificação passam a ser referencias, de um dos mais antigos produtos regionais que, desde 1551, se tem notícia no Brasil, quando à época o padre Jesuíta Manuel da Nóbrega, já falava de sua existência entre os índios de Pernambuco.

A diferença da farinha do Médio Solimões no Amazonas, para as do Nordeste, são as suas características de crocância e o formato ovalado, conhecido como ovinha. Esta farinha é considerada uma iguaria no acompanhamento dos peixes amazônicos como tambaqui, pirarucu, matrinxã, tucunaré, entre outros.

O agricultor Francisco Dárcio Falcão da comunidade Bom Jesus do Lago de Tefé, no município de Alvarães, disse que “produzir farinha do Uarini faz parte de várias gerações de sua família e que, aos poucos, mas com mais de 150 anos de prática, foram introduzidos métodos de produção, ‘feitura’ que se caracteriza pela ousadia e a renovação, para chegar no produto final que hoje foi certificado.”

Segundo ele, os 15 passos para se chegar a farinha do Uarini são frutos de muitos anos de observação e prática continuada.

“Primeiro plantamos a maniva, arrancamos a mandioca/colheita, colocamos de molho por três dias, descascamos, trituramos, enxugamos a massa de mandioca, peneiramos, embalamos, levamos ao forno para torrar e mexemos com o remo, colocamos na gamela para esfriar, tiramos o pó, selecionamos os grãos com duas peneiras, ensacamos, transportamos da comunidade para a cidade, e vendemos por R$ 3 o quilo. Agora, com a certificação, ela será comercializada a R$ 6, o que representará um ganho considerável para as comunidades produtoras, que, historicamente, entregam suas produções aos atravessadores”, comentou.

Na análise da diretora técnica do Sebrae, Adrianne Gonçalves, “os agricultores do Médio Solimões deram o exemplo de que a farinha é excepcional e merece ter mais valor agregado. Eles tem tradição, técnica e sempre entregam um produto de qualidade. O Sebrae vem trabalhando com eles há muitos anos e tem acompanhado todos os processos de produção artesanais”.

Farinha, guaraná e peixes

O Chefe da Divisão de Exame Técnico X do INPI, Pablo Ferreira Regalado, disse que o Amazonas com a farinha do Uarini já registra três produtos com identificação geográfica, a saber: Peixes ornamentais do Rio Negro, Guaraná de Maués, e, agora, a farinha do Uarini. Regalado adianta que o abacaxi de Novo Remanso em Itacoatiara, conhecido pela sua doçura, está na fila para receber a identificação geográfica, o mesmo valendo para o pirarucu de Mamirauá .

Segundo ele, o registro de uma identificação geográfica requer uma série de requisitos para ser validada, como a tradição, a técnica, o reconhecimento de sua diferença como produto e a constante produção no território em foco. ”A farinha do Uarini levou 27 meses para ser registrada como identificação geográfica”, salientou o especialista.

Objetivo principal

A analista de Políticas e Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Maria Cláudia Nunes Pinheiro, destacou que o Programa de Propriedade Intelectual para o Desenvolvimento Industrial atingiu o seu principal objetivo, com o registro de identificação geográfica da farinha do Uarini, que é o de disseminar a propriedade intelectual como ferramenta estratégica.

“Nós temos uma parceria com o INPI e, pela primeira vez em sua história, seus especialistas saíram do Rio de Janeiro paras ministrar uma oficina de identificação geográfica no Amazonas, coincidindo  com o registro de identificação geográfica da farinha do Uarini”.

União

O chefe do escritório do SEBRAE em Tefé, José Antonio Cardoso Fonseca, disse que a conquista da certificação se deve também ao trabalho dos parceiros como o Instituto Mamirauá; Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); ICMBIO; Fundação Amazonas Sustentável (FAS); Instituto Fonte Boa; Conab; Associações e Cooperativas de produtores de farinha; bem como as prefeituras de Tefé, Alvarães  e Uarini, que tiveram papeis centrais, para se conquistas o registro de identificação geográfica da farinha Uarini.

“Foi um trabalho conjunto e todos têm crédito pela iniciativa, que vai beneficiar milhares de produtores da região, com mais valor agregado e vendas para o Brasil e o exterior”, salientou.

Irmãos

Os irmãos Pablo Ferreira Regalado do INPI e Diego Ferreira Regalado, diretor da Escola Superior de Ciências da Saúde da UEA, tem algo em comum: o reconhecimento de que o desenvolvimento regional da Amazônia é fundamental, para agregar valor a dezenas de produtos que são únicos no Brasil, como a farinha do Uarini, o guaraná de Maués e os peixes ornamentais do Rio Negro.

“A UEA tem como missão desenvolver o interior e meu irmão trouxe a boa notícia da identificação geográfica da farinha do Uarini. Nós, como anfitriões, ficamos muito felizes com a conquista, porque trabalhamos na direção do fortalecimento do Amazonas Profundo”.